Pouco mais de
dois meses demorou Simão Sabrosa a conceder-me uma entrevista para o
Mundo Deportivo. Mas, depois de muita luta dialética positiva, por fim o
internacional português cedeu às nossas "pressões". Desde a sua chegada
ao Espanyol, podiam-se contar pelos dedos de uma mão as conferências de
imprensa que concedeu. E, a título individual, esta é a primeira que
concede a um meio desportivo depois de muitos, muitos meses. Nela, o
extremo desvendará os motivos do seu "silêncio", o que pensa do futuro e
presente do Espanyol e o continuar na equipa até acabar o seu contrato
no próximo 30 de Junho.
Sabe que muitas pessoas apostavam que nao me iria conceder esta entrevista?
Pois, já vi que sim. Deveria ter apostado porque havia ganho a aposta.
Porque é tão relutanto em falar com os meios de comunicação?
Sou
uma pessoa que sempre deu a cara nas equipas onde estive. Fui capitão
em todas elas e nunca me escondi. Mas aqui encontrei-me numa situação
muito dificil quando Pochettino me tirou da equipa. Alguns meios de
comunicação começaram a falar de uma situação que não conheciam e não
diziam a verdade. Decidi desconectar para que não me causassem mais dano
e por isso deixei de falar. Adoptei uma forma para proteger-me e
preferi "expressar-me" em campo.
O que é que lhe magoou tanto?
Que
dissessem mentiras como que eu queria deixar o Espanyol e que tinha
discutido com Pochettino. Saí da equipa sem saber o motivo e até hoje
ainda não o sei. Nunca me disse nada. Não o entendi mas respeitei a
decisão porque ele era o treinador e era ele quem decidia. Eu sou um
profissional e desde o primeiro dia que cheguei sempre me entreguei ao
máximo, tanto nos treinos como dentro de campo. Uns dias as coisas saem
melhores e outros piores, mas tento trabalhar ao máximo para trazer o
melhor para a equipa. Os meus companheiros valorizam-me e gostam de mim,
e para mim isso é o mais importante.
Está a viver agora, então, o seu melhor momento desde que chegou ao Espanyol?
Sim.
Aqui sou feliz, estou bem fisicamente, sinto-me bem e a equipa voltou a
ganhar. Desde a chegada de Aguirre as coisas mudaram muito para todos.
Esta
temporada começaram bem, depois vieram os maus resultados e no passado
domingo ganharam ao Rayo em Vallecas. Muitos são os que pensam que a
dinâmica negativa a pode "provocar" o próprio técnico pelas suas
"surpresas" nas listas. A equipa sente-se "descentralizada" com as
contínuas mudanças de Javier Aguirre nas convocatórias e nos "onze"?
Não,
de nenhuma maneira. As mudanças do mister não nos descentralizam porque
ele é muito claro nas propostas de cada jogo. Depende do rival, jogamos
com um ou outro sistema e preparamos o encontro de forma distinta.
Sempre disse que confia em todos pois temos uma boa equipa. Em cada jogo
utiliza aquela que acredita que é a melhor equipa para ganhar. Isso faz com
que ninguém baixe os braços e que trabalhemos mais porque se não jogamos
uma semana podemos fazê-lo para a próxima e estamos todos conectados.
Falando de Aguirre, muitos dizem que Simão é o "menino mimado" do técnico mexicano porque está sempre nas suas alineações...
Não,
isso não é assim. Não sou o "menino mimado" do Aguirre. Quando jogo é
porque o treinador me vê bem e acredita que posso ajudar a equipa. Não
jogo por jogar. A quem diz isso recordo que estive no banco e inclusive
me deixou na bancada. No campo tento sempre demonstrar porque jogo. Não
podem dizer que sou o "menino mimado" porque sou um profissional, levo
muitos anos no futebol e não necessito de andar de mão dada com o "pai"
desportivo. Trabalho sempre ao máximo, ajudo os meus companheiros em
tudo o que posso, e é o mais importante.
No
último encontro no Cornellà-El Prat diante do Sevilla, a "afición" o
assobiaram quando o técnico mexicano o substituiu. Suponho que isso o
maguou...
Sim,
doeu muito que os adeptos me assobiassem. Mas aceito e respeito a
decisão dos seguidores porque têm todo o direito de se expressarem
livremente. Trabalharei para que esses assobios se convertam em
aplausos. Em geral, acredito que eles estão muito contentes comigo. Ao
menos me demonstram isso quando falam comigo na rua. Aquilo já pertence
ao passado.
Como é que você explica a queda do Espanyol após um grande início?
É
normal porque a Liga é muito igualada à exepção do Atlético, Barça e
Madrid. Qualquer uma pode ganhar em qualquer campo. É um Campeonato
muito equilibrado.
Ganharam ao Rayo e...
Agora
é vencer à Real ainda que não seja fácil. Há que continuar trabalhando
e as coisas saírão porque temos uma equipa com qualidade. Não podemos
perder a concentração nos jogos e há que encontrar o equilibrio
defensivo e ofensivo.
Onde pode chegar esta equipa?
Primeiro
temos que sumar 42 pontos. Devemos estar focados em ir jogo a jogo,
trabalhar e ser humildes. Depois já marcaremos outros objectivos mas não
pode ser que na 3ª jornada se começe a falar da Europa.
Está a Copa...
Estamos
muito entusiasmados com esta competição e queremos chegar o mais longe
possivel, ainda que saibamos que não será fácil. Não estamos para perder
nada e claro que o mister utilizará, como sempre, aquela que acredita
que será a melhor equipa para ganhar mas também temos que ir
eliminatória a eliminatória. E o Jaén é o primeiro rival.
Acaba o contrato no próximo 30 de Junho. Gostaria de renovar?
Sinto-me
bem na equipa e no clube. Vou trabalhar diariamente com grande
entusiasmo. Estou confortável e porque não continuar? Nasci com uma bola
e sou feliz a jogar. Não penso, de momento, em retirar-me do futebol.
In: Mundo Deportivo
Tradução: Simão Sabrosa Fãs