A fotografia é tão bonita que Mariana Sabrosa acaba sempre por repetir a sua publicação nas redes sociais de cada vez que o Sport Lisboa e Benfica ganha um título importante. Na imagem, o pai Simão carrega ao colo o pequeno irmão Martim. Ela, com o cabelo loiro e lenço da águia atado na cabeça, aconchega-se junto aos dois.
A recordação foi tirada numa das muitas vezes que a jovem agora com 19 anos entrou pela mão do jogador no relvado do clube. “Eu tinha para aí quatro, cinco anos, nunca vou esquecer. Era mesmo giro entrar no campo assim, aconteceu muitas vezes”, conta Mariana à NiT.
Quem sempre acompanhou a carreira futebolística de Simão Sabrosa recorda, de certeza, este cenário e o rosto dos seus dois filhos. Contudo, ao ver as fotografias mais recentes de Mariana pode não reconhecê-la: “Mudei imenso, estou morena e era super loirinha.” A jovem mudou, cresceu, mas garante manter a mesma educação de sempre, baseada em humildade e pouco exibicionismo.
Nasceu em janeiro de 2001 em Barcelona, Espanha, numa altura em o pai dividia balneário com craques como Luís Figo ou Josep Guardiola. “Quando tinha seis meses, mais ou menos, o meu pai assinou contrato com o Benfica e eu e a minha mãe [Filipa Valente] mudámo-nos para Cascais, onde vivo até hoje.”
As primeiras memórias que tem foram, claro, em ambiente de festa de futebol. “Corria pelos corredores do estádio, ia assistir a muitos jogos. É por isso que ainda hoje sou uma adepta ferrenha do Benfica e do Barcelona [risos].”
À parte disso, a jovem lembra-se de viajar desde muito nova. “Fazíamos muitas viagens, primeiro os três e depois a quatro, quando o meu irmão Martim nasceu, tinha eu dois anos. Íamos a muitos sítios, mas acho que as cidades de que melhor me recordo, e onde volto muitas vezes, é Barcelona, claro, e Roma.”
Mariana viveu com o pai até aos seis anos. Em 2007, o futebolista assinou contrato com o Atlético de Madrid, fez as malas e rumou novamente a Espanha. “Nós ficámos cá e íamos até lá de 15 em 15 dias e nas férias. A minha mãe sempre quis dar-me estabilidade e não achava bem andarmos sempre a mudar de escola“, conta.
Aos oito anos, a agora estudante de Arquitetura teve o primeiro momento de independência. “O meu pai vinha cá passar o Natal e pedi-lhes para ir ter com ele mais cedo. Fui com uma hospedeira e passei dias muito giros. Depois regressámos a Portugal juntos. A minha infância foi sempre muito disto.”
Nesta altura — e até ao nono ano de escolaridade — Mariana andou nos Salesianos do Estoril. Embora tivesse noção de que o pai era uma figura pública, diz nunca ter “ligado muito a isso”. Era até bastante engraçado quando os seus amigos se encontravam com Simão.
“Achavam imensa piada, pediam autógrafos. Nas minhas festas de aniversário era sempre uma euforia”, recorda. Havia, contudo, uma parte mais chata: “Era desconfortável quando íamos almoçar fora ou eu chegava à escola e tinha lá fotógrafos à porta. Mas o meu pai também não ligava muito e incutiu-me essa maneira de ser.”
Embora longe, o atleta sempre fez questão de estar presente na vida dos filhos. A certa altura, ainda a jogar no Benfica, usou uma fotografia de Mariana na braçadeira de capitão — uma forma de lhe dedicar os golos. Contudo, a Liga proibiu-o de fazê-lo. “Recordo-me vagamente disso, mas não sei pormenores. Lembro-me sim de ele ter uma T-shirt com o meu nome por baixo do equipamento, que mostrava sempre que marcava.”
Quando terminou o nono ano, Mariana mudou-se para o Colégio Amor de Deus, em Cascais. Na infância ainda sonhou ser veterinária — recorda com carinho as cadelas Minnie e Meggie, esta última que até viajou muito com ela —, mas foi em Artes que acabou por ser feliz.
“Adorava desenhar e a minha mãe sempre me disse que eu era menina para ir para esse curso. Contudo, os meus pais nunca me influenciaram a nada e sempre me deram liberdade para escolher. Seguir o Secundário nesta área foi uma opção minha”, explica.
Já em plena adolescência, a discrição da infância manteve-se. “Óbvio que os meus colegas sabiam quem eu era, mas consegui sempre que a fama não me afetasse. Dizia que era ‘a Mariana’, nem sequer falava no meu apelido. Sempre fui ensinada a fazer as minhas coisas sozinha e sem dúvida de que os meus pais tiveram um papel muito importante na minha maneira de ser.