sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

MIKI FEHER - A SAUDADE


"Era religioso: o mister dirigia as últimas palavras, o sangue atingia o excesso de velocidade no corpo, soltavam-se os últimos gritos de incentivo, faltava pouco para subirmos ao relvado. De repente fazia-se silêncio, pontuado com o eco da última voz. Num gesto único, todos se aproximavam da enorme fotografia do Miki, colocada propositadamente ao lado do seu cacifo, juntávamos as mãos numa pilha de energia, eu soltava a contagem, "um...dois...três", e as vozes uniam-se num grito imenso que chegava ao céu: "Miki, Miki, Miki!!!". 
Desde a morte do Miki Fehér que o gesto se repete, a cada jogo, em cada saída para o relvado. E creio que assim será enquanto existir um jogador naquele balneário que tenha presenciado, ao vivo, a morte do Miki. Foi um momento terrível, de uma intensidade extrema para nós. Quem viveu aquela dor a um palmo dos olhos nunca mais esquecerá o Miki."

"...Os 15 jogadores do plantel que viveram aquela tragédia e os outros que perceberam rapidamente a dor imensa, lembraram sempre a memória  do Miki nos momentos difíceis da época.
Era qualquer coisa que vinha cá de dentro e não se explicava. Era uma força mágica que nos corria o corpo e nos fazia esgotar o fôlego, superar a dor, dilatar as forças e enfrentar todas as dificuldades. Para ser sincero - posso dizê-lo agora porque ninguém descobriu antes - o Benfica jogou sempre à margem dos regulamentos neste campeonato: jogamos com 12 e ninguém viu! Quando Pedro Henriques apitou para o final do jogo no Bessa, ninguém viu mas o Miki andava aos pulos e aos gritos no relvado. Ninguém viu mas ele encharcou toda a gente com repuxos de champanhe. Ninguém viu mas ele abraçou os colegas, um a um. Ninguém viu mas ele deixou rolar as lágrimas pelo rosto, com aquele sorriso inesquecível. O Miki fez questão de morrer a sorrir porque já previa este desfecho."

Simão Sabrosa


 In: Simão Sabrosa - O Filme do Capitão 
   20 Segredos de um Título Inesquecível 


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